Atenção Com Dietas e Remédios milagrosos: desregulam o relógio biológico

Fórmulas para emagrecer rapidamente prejudicam o sono Remédios milagrosos desregulam o relógio biológico até a troca do dia pela noite. Mulheres são as principais vítimas. A técnica é a mesma. O ritmo é que já não é aquele, de ganhar medalhas, títulos, de sonhar com as Olimpíadas de Sidney, no ano 2000. Foi naquela época que a atleta e enfermeira Ana Paula Malta ganhou outro tipo de prêmio, lindo: Antônio Pedro. Depois, veio Carmen. "O tempo hoje em dia é um pouco cruel comigo, mas eu tenho muita vontade de voltar a competir. Aos pouquinhos, quem sabe? O ponto inicial seria emagrecer", diz Ana Paula. E foi assim, tentando perder peso, que Ana Paula perdeu o sono. "Eu entrava naquele sonho de emagrecer o mais rápido possível, ia aos médicos que amigas indicavam, porque conheciam alguém que tinha perdido 20 ou 30 quilos em um mês”, conta a atleta. "É muito frequente que as fórmulas causem insônia, porque dois elementos quase sempre estão presentes. Um deles é o inibidor de apetite, que estimula o sistema nervoso central e, muitas vezes, leva à insônia. O outro, que nunca deveria estar ali, é o hormônio da tireóide. Em doses excessivas, o hormônio da tireóide é uma frequente causa de insônia e muitas vezes está presente nessas fórmulas pra emagrecer", diz o médico da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, Walmir Coutinho. "Fora o emagrecimento, o efeito é devastador. Um termo muito engraçado que eu usava é: 'cuspir marimbondos', o que eu considero uma TPM 24 horas por dia. Eu não sabia o que era dormir, principalmente à noite. De dia, eu até cochilava, mas à noite, eu não dormia", lembra Ana Paula. Dia, noite, lua, sol... girassol. O nome desta planta vem do fato de todo dia, invariavelmente, ela acompanhar a luminosidade que vem do céu. O caule vai girando, seguindo o sol. E mais: durante a noite, a planta faz o caminho de volta – gira ao contrário, para começar tudo de novo, ao amanhecer. Um ciclo perfeito, natural. Não deveria ser assim com a gente? Com o nosso sono? Deveria. Se a natureza humana não estivesse sujeita a certas interferências que o girassol não conhece. No caso de Ana Paula, foram certas fórmulas milagrosas que desregularam de vez o relógio biológico dela até a troca do dia pela noite. "Passava a madrugada arrumando o armário, a casa, inventando o que fazer. Às vezes, eu ia andar na Lagoa às 3h30, 4h. Porque eu não sabia o que fazer, porque estava totalmente acordada. Para mim, era meio-dia às 3h", lembra a atleta. Pelos dados do Centro de Estudos da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), muita gente precisa acertar os ponteiros. "A mulher brasileira tem que ser aquele vara-pau, anglo-saxão, magrela, comprida, tipo a boneca Barbie. A consequência disso é que, para emagrecer, ela tem que tomar um medicamento que produz insônia, ansiedade e irritabilidade. Então, o médico prescreve junto um produto que combate a insônia e a ansiedade. Essas mulheres são as grandes vítimas dessa prescrição ou do uso meio amalucado, como eu acho que é mesmo, meio sem sentido", explica Elisardo Carlini, do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (Cebrid), da Unifesp. Ana Paula ainda quer emagrecer. É uma corrida contra o tempo. "Tem a ver com o estilo de vida que eu levo. Sempre como na rua. O tempo que eu tenho para remar não é suficiente para queimar o que eu como", conta ela. Faça sol ou faça chuva, o filho vai para a escola. Ela deixa a menina na casa da avó e trabalha o dia todo. Difícil arranjar tempo para recuperar a forma com calma, naturalmente. "Eu não tenho por que mentir: estou com 90 quilos e tenho 1,70 metro de altura. Então, tenho que perder 22 quilos. Tomo medicação, mas estou sendo bem acompanhada, por nutricionista, endocrinologista. São pessoas sérias, que estão me acompanhando de maneira correta. Fiz inúmeros exames antes de começar todo esse acompanhamento", explica Carla. Agora, ela precisa reaprender a dormir na hora certa. "Eu acordo por volta das 4h30. Para mim, já não é tão cedo assim. Eu começo a me organizar, tomo meu café da manhã, meu banho, me arrumo com calma. Durmo à meia-noite e meia. No momento, acho que estou dormindo o suficiente, não estou sentindo falta", diz a atleta. Mas é sempre bom lembrar: "Dormir bem pode proteger a pessoa contra o excesso de peso. Está provado: tem estudos mostrando que a pessoa que dorme menos de oito horas por noite acaba tendo aumento de hormônios que causam fome e diminuição de hormônios que emagrecem", relembra o doutor Walmir Coutinho. "Antigamente, eu falava que preferia ser um zumbi magro do que ser um zumbi gordo. Hoje em dia eu prefiro ser um zumbi gordinho em processo de emagrecimento normal", conta Carla. Aos poucos, Ana Paula tenta recuperar um ritmo saudável. A cada dia, a cada noite.