Solange Couto engravidou de seu terceiro filho aos 54 anos. A atriz, que é mãe de um rapaz de 36 e uma menina de 19 anos, não esperava pelo bebê e garante que não fez tratamentos de fertilização para a gestação. .
A dificuldade para ter filhos mais cedo ou a vontade de ser mãe depois de atingir estabilidade profissional e financeira estão levando as mulheres a adiar a gestação. Dados da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) mostram que a porcentagem de mulheres acima de 40 anos que buscam tratamentos para engravidar dobrou de 1990 a 2002, passando de 7% para 14%.
ENTREVISTA: Solange Couto fala sobre a surpresa da gravidez
Apesar de se preocuparem com sua vida profissional, o sonho de ser mãe não é esquecido - de forma artificial ou naturalmente, elas continuam tentando realizá-lo. O ginecologista Paulo Gallo, chefe do setor de reprodução humana do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), atende pacientes entre 35 e 47 anos que pretendem dar à luz. Segundo ele, essa procura está relacionada à nova realidade da mulher: "Antigamente, ela apenas pensava em casar e ter filhos. E a sociedade exigia dela apenas isso, formar uma família. Hoje, a mulher quer se dedicar aos estudos, à profissão, e, por isso, acaba postergando a gravidez".
Difícil, mas possível
A gravidez tardia, porém, não é para qualquer uma. "A taxa de fertilidade começa a cair a partir dos 25 anos de idade. Aos 40, ela despenca", afirma o ginecologista. Com a idade avançada, os óvulos também perdem em qualidade. E os riscos? Tornam-se mais preocupantes. Quanto mais perto da menopausa, maiores são as chances de haver complicações e problemas para a mãe e para o bebê. "Além da dificuldade para engravidar, há o risco de surgirem miomas, tumores ovarianos e endometriose. Se a mulher sofrer de hipertensão ou diabetes, a gestação pode ser ainda mais complicada", avisa Paulo Gallo, que lembra, ainda, a possibilidade de ocorrerem abortos e partos prematuros.
TESTE: Pronta para ser mamãe?
Outra grande preocupação alardeada por alguns profissionais é a Síndrome de Down, que é mais comum entre bebês de mães mais velhas. Gallo alerta para o exagero: "Quando a mãe está com 30 anos, a probabilidade de a criança ter a síndrome é de uma em dois mil nascimentos. Para mães com 40 anos, é de cerca de uma em 200. Comparando os dois dados, tendemos a pensar que os riscos são enormes porque são dez vezes maiores. Mas a ocorrência, de um para 200, ainda é muito pequena", diz o médico.
Quando o assunto é câncer de mama, outro receio das mulheres com mais de 35 anos, Gallo também minimiza os temores: "O que aumenta a probabilidade de se contrair câncer de mama não é a gravidez tardia, e sim o fato de não se ter engravidado antes. Isto porque a gestação confere uma espécie de proteção contra a doença", explica.
Preparo emocional
A história de Maria Ignez
A história de Maria Ignez é um estimulante para aquelas que estão perdendo as esperanças. A arquiteta de 48 anos está curtindo a sua primeira filha, Isis, de dois anos. Antes dela, já havia sofrido quatro abortos, todos após os 41 anos de idade. "Até os 40, não pensava em ser mãe, pois achava que era uma responsabilidade grande e eu não me sentia preparada para isso", diz. "Numa troca de anticoncepcional, acabei engravidando, e aí veio a vontade. Perdi quatro bebês por um problema de imunidade, mas continuei tentando", relata Ignez, que engravidou naturalmente.
Durante a gestação Ignez contou com o acompanhamento do ginecologista, de uma imunologista e um cardiologista, por ser hipertensa. "Mesmo com o agravante da hipertensão, tudo correu bem. O médico costuma dizer que foi a gravidez de risco menos arriscada que ele já viu", brinca.